Total de visualizações de página

quarta-feira, 25 de julho de 2007

" O amor me pegou e eu não descanso enquanto não pegar aquela criatura.."

Ele ainda não acredita em mim. Tem uma fobia que tudo pode acabar, se diluir instantaneamente, aflige o seu coração à toa. Eu também me senti assim, no início. Se bem que só estamos saindo há cinco meses , pra algumas pessoas pode ser apenas o início, pessoas que já vivem um relacionamento prestes a acabar, pra estas cinco meses não é nada. Pra mim é como se eu já o conhecesse a vida toda. Meio clichê, mas a pura verdade. E posso me sentir assim , porque percebo que ele foi o único cara que realmente prestou atenção na verdadeira pessoa que se esconde atrás dessas roupas, desse jeito manso de falar, ou até mesmo das minhas posições calechadas pelo inconsciente coletivo. Ele me fez entender porque tanto sofrimento se passou, o que estava procurando, sem saber, mas sabendo....se auto-destruindo pra ser curada, se desgarrando pra ser protegida, se perdendo pra ter um colo, eu fingia não saber, e gostava das minhas perdições. Porque era a realidade que me tocava, não sentia a vida através de outras esferas, não modificava as minhas intenções, não tinha um caminho alternativo, não existia evolução. É lógico que depois que se tem um filho não tem como não se sentir a criatura mais feliz do mundo. Não tem como o mundo que gira a sua volta se transformar em outro. É você, ali pequenininho olhando tudo de novo, mas como se fosse aquele primeiro olhar, a serenidade, a esperança, a vontade de se fazer feliz. Tudo isso o meu pequeno me ensinou, o meu outro amor me cativa também com suas palavras, o seu jeito de me pegar e me embalar com os olhos. Me abraçando forte sem pressa, me beijando a nuca e dizendo o que toda mulher precisa ouvir. Sim, gostamos de ser cuidadas, e sou totalmente feminista quando afirmo tal proprosição,
e posso até estar sendo dramática ou má agradecida com os meus outros amores, mas ninguém havia me concedido um cantinho tão bom de se ficar quanto este cantinho que aqui me repouso. Este cantinho que para mim é imenso e quero ficar pra sempre. Me leve sempre contigo, tenha mais fé e saiba que todo esse sentimento, eterno ou não, se chama amor.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

O pai

Ele está lá no hospital a essa hora. Aguardando o momento da tão esperada cirúrgia, contando os minutos, agonizando, louco pra fumar um cigarro. Meu irmão está dando uma força, vai passar a noite lá com ele. Nos últimos dias não consegui ser tão Pollyana quanto deveria ter sido. Minha paciência de engolir sapos todo dia foi rompida com um simples " vai tomar no cú", seco e direto para mim. Meu relacionamento com ele nunca foi muito bom, se teve época que convivíamos na maior paz foi durante a minha infância. Ele era muito carinhoso, e quando eu era bebê, segundo a minha mãe, sempre foi muito prestativo. Ajudava ela a trocar as fraldas, dava banho na gente, e é assim que ele é com o meu filho. Disso não posso reclamar, se o meu filhote foi rejeitado pelo pai biológico, o meu pai tomou as rédeas da situação. Às vezes se empolga até demais, me sinto um pouco menos mãe, porque acabo não conseguindo educar do meu jeito. Mas ontem ele se superou, e mesmo que tenha me mandado tomar naquele lugar há três dias atrás, não teve como o meu coração não amolecer, ele, com menos de 24 horas para se internar, me ajudou a noite inteira com o moleque que estava ardendo de febre, não queria dormir, tava naquela manhã típica das crianças que estão doentes. E o meu velho, pai, companheiro, dormiu das duas até as cinco da matina, acordou e ficou com o guri até às oito, e foi encarar o seu destino. Daqui à pouco quando amanhecer vou para o hospital. Segurar a mão dele e rezar para que tudo ocorra bem...estamos nos revezando aqui, em cada turno vai alguém lá ficar com ele, a minha vez vai ser bem na hora da cirúrgia, vou estar lá antes e depois, e serei novamente aquela criança que ele pegava no colo e beijava a bochecha.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

A espera

Tenho saudades dele, já, tão depressa. Fiz uma programação, pesquisei o que está acontecendo de bom em Sampa pra ele se divertir um pouco. Enviei por e-mail, filmes, teatro, bares, música, opções para ele se expandir. Eu permaneço aqui, no meu cotidiano materno, amanhã tenho até uma reunião da Marcha Mundial das Mulheres e começo minhas aulas práticas de auto-escola.
Ele me liga, dizendo que só virá no sábado. Eu espero, vou sempre estar na espera, ansiosa, por uma abraço, por palavras carinhosas que massageiam a alma. O ato de esperar nunca foi tão feliz como agora, espero sorrindo, e durmo pensando no sábado que está por vir.
Faço bolos, faço versos, escuto tuas canções, teus cheiros retornam na minha memória, tua saliva percorre os meus desejos, imagens, imagens, me entrego sem medo, se ganho ou perco, já não me interessa.....sensações, boca, pele, calor, lambidas, descobertas, cheiros, do quarto, de nós,cansaço, alívio, repousar entre os teus braços, devorar-te num só instante, todo dia.

Mi casa su casa

Kerouac antes de escrever "On the road" se preocupava em contar quantos caracteres conseguia escrever no seu dia-a-dia. A minha preocupação é se conseguirei escrever todos os dias...hoje tem uma preparação na minha casa, arrumar os quartos, levar o que não se ultiliza tanto pra chácara, fazer uma geral. Aqui com 3 quartos é uma luta constante de sobrevivência. Antes de me estabelecer, de chegar com um filho na barriga, a divisão era: o quarto maior dos meus pais, o quarto do meio da minha avó, e o último da minha irmã. Depois da minha vinda, o quarto maior ficou comigo, o da minha avó não tem como mexer, pois ela tem mal de alzheimer, ali virou o canto da espera, o da minha irmã agora é dela e dos meus pais. Só que a minha mãe dorme lá, meu pai no colchão da sala. E não sei quando aconteceu mas ele foi perdendo espaço na casa. Suas roupas ficam separadas em pequenas bolsas, seus documentos embaixo do sofá...e amanhã ele vai se internar pra se preparar para cirurgia. Esse fato não irá só modificar a visão de mundo dele, mas acho que já estará atravessando o nosso singelo cotidiano. Ele vai ter que voltar pro quarto que um dia foi dele, dormir na cama de casal, ter o conforto de um cômodo com banheiro. Eu vou pro quarto da irmã, que não cabe mais nada, junto com o moleque e minha mãe, que provavelmente terá que dormir na sala. Há uma inversão de papéis, a família patriarcal aqui é matriarcal, e a comandate terá que se contentar com o colchão da sala. Aliás, esse colchãozinho que tanto me agrada, porque é nele que em algumas madrugadas tenho uma certa privacidade. É aqui é pior que república, mas me sinto em casa, embora não seja a minha casa.

terça-feira, 3 de julho de 2007

A gênese

Já que me apresento aqui como jornalista desempregada, uma Pollyana às avessas...um amigo me definiu assim, nunca li Pollyana, é um dos livros preferidos da minha mãe. Faço parte dessa busca desesperada em me libertar através das minhas próprias escritas, me libertar das amarras do meu eu-consciente, se entregar ao inédito, me arriscar, experimentar, viver sem premissas, pular de pára-quedas nesse novo mundo. Se tudo serve para a poesia, eis-me aqui, servo dela. Desembaralhando toda a estrutura, escutando novos ares, pisando na terra molhada, rindo do meu filho, chorando as minhas hipocrisias, vomitando o meu desespero. Sentindo saudade daquilo que ainda não aconteceu, me arrependendo por estar imóvel depois de toda a barbárie no Morro do alemão, tentando entender o inexplicável, me ausento nas minhas perspectivas, me renovo quando o pequeno acorda sem febre, sinto vontade de esticar as pernas quando escuto "It´s the beat" do Simian Mobile Disco. Cheiro o pulso esquerdo quando fico ansiosa para terminar algo. Meu pai dizia que o meu avô fazia a mesma coisa, não o conheci, não sei se é verdade ou se é mais uma lenda inventada. É assim então, que tudo não tem fim, deixo fluir, levando o tempo nas coisas.