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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Daniel na cova dos leões

Os homens sempre me apontaram o dedo, como se o meu defeito de fábrica tivesse que ser sanado, de uma hora para a outra. Lembro-me do meu primeiro namoradinho que me dizia que o meu gosto já não era tão bom (por causa dos cigarros). Teve um outro que me achava imatura demais (palavras fincadas em minha memória: Cresça primeiro, depois me procure!). Teve um e outro que apreciavam o meu jeito desbocado de ser, que realmente gostavam da minha atitude libertária, eu era meio Leila Diniz. O que me traiu me levou um barco de comida japonesa, quando o conheci estava vestida de puta (foi numa festa à fantasia), deve ser por isso que inconscientemente achou que poderia me trair. Vamos dizer que depois de tanto tempo (já estou com 30 anos e vários cabelos brancos) muita coisa em mim foi aperfeiçoada: só fumo quando tomo umas (e hoje em dia essa periodicidade é mensal), tive um filho, ou seja, amadureci na marra, não falo mais tanto palavrões (justamente por causa do filho), iniciei uma nova etapa nas redes sociais, “relacionamento sério” (isso não existia há 8 anos atrás, nem na minha vida, nem no mundo). Mas admito, tem ainda muitas peças fora do lugar. Tem uma que vive se desencaixando: uma tal de TPM. Ainda sim, de vez em quando, expresso o meu descontentamento, a solidão que me incomoda me faz abrir a boca (aí eu sou chamada de mimada, orgulhosa etc). Só que isso acaba se tornando mais um defeito que deve ser reajustado para não haver mais incômodos. Para ser uma bonequinha útil nas mãos dos homens, não devo abrir a boca, só dizer “sim” com a cabeça e ser sempre tolerante, com um olhar sereno de boa moça. Tenho para mim que os defeitos apontados constantemente não sejam de todo modo errados. Eles fazem parte do que eu sou. Eles informam: Não, eu não sou sua marionete! Às vezes o que tanto procuro está empregado em mim mesma. Pode até ser que eu nasci pra ser.