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sábado, 22 de setembro de 2012

Clara decide viver

Ele disse: pra você ficar bem precisa dançar, abraçar e beijar.

Clara saiu dali aliviada, a busca pelo seu ser em todos esses anos fora tão pesada e agora seria simples.

Gostava de dançar, aliás essa característica a fez conhecer muitas pessoas. Quando tinha uns 20 e poucos anos jogava o cabelão na frente do rosto, fechava os olhos, e sentia o baixo do blues gemendo em seu corpo, técnica ensinada por uma colega da classe de ciências sociais.

O blues, o rock´n´roll, o rum com coca-cola, eram objetos essenciais para as suas noites de farra. E era feliz. Extremamente feliz.

Depois veio a música eletrônica. No começo achava estranho aquelas pessoas que dançavam a noite inteira sem se cansar.
Preferiria observar, não sabia fazer os passos, sentia falta do rock....ou algo assim.

Demorou até se soltar, até entender o que fazia as pessoas se reunirem no meio do mato, e eram como irmãos, todos se amavam de uma só vez, em um único dia. De repente, chegou ao nascer do sol e dançou, dançou, fechava os olhos, sentia a brisa do amanhecer, sorria, seu coração sorria para todos, e descobriu o abraço fraterno de que tanto precisava há tanto tempo.

O que seria esse tal de "beijar", indagava-se. Lembra do primeiro beijo, todos a olhavam, as amigas estavam na maior expectativa, mais do que a própria Clara. Veio a imagem de um beijo tão inesquecível, estava no Stones, tocava Janis Joplin cover, com os olhos fechados sentiu alguém lhe beijar....alguém lhe roubou um beijo, não queria abrir os olhos, queria que continuasse o mistério, depois esse alguém foi um dos grandes amantes de Clara.

Pensou naquele frio na barriga que vem antes do beijo, sensação tão boa, e também dos afagos, do amanhecer, dos beijos escondidos....

Sairia para dançar, estava resolvido.
Abraçaria todos os amigos que encontrasse pela frente, um abraço bem dado, forte, de estalar coluna.
Iria nas festas de casamento, em raves, em bares que tocassem blues, em rodas de samba, quer ouvir no rádio "blues e derivados" só para ir treinando.

E beijar pensou, depois de tantos anos, é sim, pode parecer careta, mas sente agora que é algo tão íntimo, não tem necessidade de compartilhar com qualquer um ( esse desejo intenso de que todas as adolescentes solteiras passam, "tenho que beijar essa noite", não fazia mais sentido para Clara).
O que fazia sentido então? Beijar pai e mãe, há uns 10 anos não os beijava de maneira convincente. E tambem não os abraçava. Tem até medo de como vai fazer isso...já que é uma adulta.

E o outro tipo de beijo, o que vem do desejo, desse mal estar do estômago, não se sabe, se valer à pena, por quê não?

Clara pode até estar enganada. Mas vai tentar, outra vez, de qualquer forma ela decidiu viver.

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