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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ONU, MS e Puccinelli






O Governador André Puccinelli anunciou que no mês de março a  sede central da ONU em Nova Iorque irá receber a exposição "Mato Grosso do Sul visto pelo mundo",  que ficará aberta ao público entre os dias 12 e 27 de março.
Reproduzindo o que saiu na mídia local:

"A exposição visa divulgar as potencialidades turísticas, culturais, industriais e do agronegócio, além de contribuir para o desenvolvimento econômico e promover as riquezas de Mato Grosso do Sul.
O governador André Puccinelli relatou a importância de Mato Grosso do Sul ser visto por um público tão seleto e em uma das cidades mais visitadas do planeta, fazendo com que o Estado concentre esforços para levar o maior número de artistas e obras possível. “Estamos indo nos mostrar e queremos que além dos 12 artistas selecionados pela própria ONU, possamos levar mais artistas nas mostras paralelas e empresários nas rodadas de negócio que realizaremos fora da ONU. Vamos para mostrar que Mato Grosso do Sul existe e o Estado que se tornar uma ilha de prosperidade e uma grande oportunidade de negócios para aqueles que querem empreender de forma sustentável por aqui”, disse". (http://www.amambainoticias.com.br/educacao-e-cultura/cultura-de-ms-sera-exposta-em-uma-das-cidades-mais-visitadas-do-mundo)

“Os artistas atuantes em Mato Grosso do Sul, que destacam em suas obras o nosso cenário, foram selecionados para o projeto”, informa Vanuza Jardim.
No artesanato teremos o trabalho do grupo Amassa Barro de Corumbá; Mãos à Obra de Jardim; Art Fish de Mundo Novo; de Bodoquena a cerâmica kadiwéu tendo a índia Maria Auxiliadora como representante; de Campo Grande, o trabalho de Mariano Monteiro com Conceição dos Bugres, Thaycoti de Leslie Gaffuri, o artesanato com fibras da bananeira de Lucimar Maldonado, a cerâmica terena com Cleuza Terena". (http://www.correiodoestado.com.br/noticias/arte-de-mato-grosso-do-sul-invade-ruas-de-nova-iorque-em-exp_205881/)

Nossa, como esse Governo atual está interessado na disseminação da cultura sul-matogrossense, vai levar a arte indígena para a sede da ONU, como se realmente estivesse interessado em promover o trabalho dos indígenas, peraí...esse Puccinelli  é aquele Governador que declarou durante uma audiência pública realizada na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, no dia 21 de novembro de 2013, o seguinte:

“Chega de invasão. Vou começar a dar o direito de se defender com armas, como provavelmente os produtores rurais terão na defesa de sua propriedade, como diz a Constituição”.

Bom, eu acho que o Senhor Governador esqueceu de ler a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas ( já que resolveu levar a arte terena e kadiwéu para a gringa, deveria se informar melhor sobre o que a ONU pensa em relação aos direitos indígenas) , que preconiza no seu art. 26:

Artigo 26
1. Os povos indígenas têm direito as terras, territórios e recursos que tradicionalmente tem possuído, ocupado ou de outra forma utilizado ou adquirido.
2. Os povos indígenas têm direito de possuir, utilizar, desenvolver e controlar as terras, territórios e recursos que possuem em razão da propriedade tradicional ou outra forma tradicional de ocupação ou utilização, assim como aqueles que haviam adquirido de outra forma.
3. Os Estados assegurarão o reconhecimento e proteção jurídica dessas terras, territórios e recursos. Este reconhecimento respeitará devidamente os costumes, as tradições e os sistemas de posse da terra dos povos indígenas de que se trate.

Ademais, lendo a Declaração mencionada acima, a fala do Governador pode ser enquadrada no art. 8º, alínea "e", o Estado de MS deveria ressarcir todos os indígenas que vivem aqui, só pela declaração fascista do nosso Excelentíssimo Governador, senão vejamos:
 
Artigo 8
1. Os povos e as pessoas indígenas têm direito a não sofrer a assimilação forçada ou a destruição de sua cultura.
2. Os Estados estabeleceram mecanismos eficazes para a prevenção e o ressarcimento de:
a) Todo ato que tenha por objeto ou conseqüência privar aos povos e as pessoas indígenas de sua integridade como povos distintos ou de seus valores culturais ou sua identidade étnica;
b) Todo ato que tenha por objeto ou conseqüência alhear-lhes suas terras, territórios ou recursos;
c) Toda forma de mudança forçada de local de povoado que tenha por objeto ou conseqüência a violação ou o menosprezo de qualquer de seus direitos;
d) Toda forma de assimilação ou integração forçadas;
e) Toda forma de propaganda que tenha como fim promover ou incitar à discriminação racial ou étnica dirigida contra eles.
 
A ONU foi instituída após a segunda guerra mundial a fim de apaziguar as rixas dos países envolvidos na grande guerra, com a pretensão de se estabelecer finalmente a paz mundial.  Lendo o plano de ação do Secretário-Geral (Ban Ki- Moon) para os próximos cinco anos (2012/2016) tenho a impressão que essa organização pretende salvar o mundo. São estratégias vinculadas em prol do desenvolvimento sustentável, de combate as  alterações climáticas, prevenção de conflitos, prevenção da violação de direitos humanos e etc.
 
"A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas não estabelece novos direitos, mas reconhece e afirma direitos fundamentais universais no contexto das culturas, realidades e necessidades indígenas (...)  O documento registra o compromisso dos Estados para tomarem medidas a fim de ajudar e garantir que os povos indígenas  tenham respeitados os seus anseios e decisões sobre os assuntos que lhes dizem respeito (...) A Declaração reflete um compromisso do Estado e todos os seus poderes – no nível federal, estadual e municipal - com os povos indígenas. Assim, a Declaração pode ser usada para guiar projetos de leis, políticas públicas e decisões judiciais sobre assuntos indígenas em todos os níveis".

 
Enfim, como o Brasil votou a favor da Declaração, o nosso Governador deveria ao menos dar uma lida no documento enquanto estiver no avião durante a sua ida aos EUA.
 
Talvez expor a arte indígena de MS na sede da ONU não seja boa ideia, ainda mais quase se ultiliza de tal desculpa para na verdade promover as "rodadas de negócio", ainda mais quando a BBC nessa semana informou ao mundo :
 
" Entre 2007 e 2013, o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Mato Grosso do Sul registrou 487 mortes violentas de índios, das quais 137 por homicídio.
Ao menos 14 assassinatos ocorreram em 2013 na reserva de Dourados, onde Doraci perdeu seus filhos. O dado confere à área o índice aproximado de 100 mortes por 100 mil habitantes, maior que a taxa de homicídios no Brasil (25,8) e até que a da capital mais violenta do país, Maceió (79,8)". (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/02/140221_sub_indios_violencia_pai_jf.shtml).
 
Na Big Apple, 200 outdoors espalhados pela cidade irão demonstrar a beleza do estado de Mato Grosso do Sul, é muita hipocrisia tendo em vista a miserabilidade que vivem os povos indígenas aqui no Oeste.
 
  
 
 
 
 
 
 
 
          

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Dilma : É proibido proibir !!!





A Presidenta Dilma Rousseff  confirmou ontem num programa de rádio em Alagoas, que o Governo Federal está prestes a apresentar um projeto de lei que irá legislar sobre as manifestações, a fim de coibir todo tipo de violência ultilizada nos protestos.

Verifica-se no cenário nacional, que nesse período pré-copa do mundo, vários projetos de leis estão começando a tramitar no Congresso Nacional, todos muito parecidos, na medida que tem como escopo o tipo penal do terrorismo, a proibição do uso de máscaras nas manifestações, penalizando principalmente os ativistas que se ultilizam da tática black bloc.

Tem até projeto de lei que penaliza quem estiver "compartilhando" na internet mensagens com ideologias que possam incitar a violência,  pena de 04 a 12 anos.

É sabido que essa preocupação vem das jornadas de junho do ano passado, tendo em vista que não cessaram as manifestações, a morte do cinegrafista da Band foi o estopim que o Governo precisava para declarar abertamente que no Estado Democrático de Direito, o poder de polícia do Estado vale mais do que "o exercício legítimo do direito à livre manifestação do pensamento, propiciada pelo exercício do direito de reunião " (Voto do Ministro Celso de Mello, ADPF 187).

Palavras da própria Presidenta:

"Os órgãos de segurança pública devem coibir a violência, cumprindo a lei, mas é preciso reforçar a lei e aplicar a Constituição, que garante a liberdade de manifestação, mas ela veda, proíbe o anonimato. Então estamos trabalhando numa legislação para coibir toda forma de violência em manifestações".
 
Então tá Dona Presidenta, vamos desconstruir esse seu discurso pé-de-chinelo.
Primeiro que a senhora cita acima o art. 5º, inciso IV da Constituição Federal de 1988, que na verdade dispõe acerca da liberdade de imprensa, assim, quando o jornalista apura os fatos, escreve a notícia e a veicula em algum meio de comunicação, esse profissional não pode se camuflar através do anonimato, pois tem responsabilidade civil se causar algum dano moral/material, e mais, o lesado tem o direito de resposta nesse mesmo veículo que saiu a notícia.
 
Nesse sentindo é a jurisprudência do STF:
 
"O art. 220 da Constituição radicaliza e alarga o regime de plena liberdade de atuação da imprensa, porquanto fala: a) que os mencionados direitos de personalidade (liberdade de pensamento, criação, expressão e informação) estão a salvo de qualquer restrição em seu exercício, seja qual for o suporte físico ou tecnológico de sua veiculação; b) que tal exercício não se sujeita a outras disposições que não sejam as figurantes dela própria, Constituição. (...) O art. 220 é de instantânea observância quanto ao desfrute das liberdades de pensamento, criação, expressão e informação que, de alguma forma, se veiculem pelos órgãos de comunicação social. Isto sem prejuízo da aplicabilidade dos seguintes incisos do art. 5º da mesma CF: vedação do anonimato (parte final do inciso IV); do direito de resposta (inciso V); direito a indenização por dano material ou moral à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas (inciso X); livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer (inciso XIII); direito ao resguardo do sigilo da fonte de informação, quando necessário ao exercício profissional (inciso XIV). Lógica diretamente constitucional de calibração temporal ou cronológica na empírica incidência desses dois blocos de dispositivos constitucionais (o art. 220 e os mencionados incisos do art. 5º). Noutros termos, primeiramente, assegura-se o gozo dos ‘sobredireitos’ de personalidade em que se traduz a ‘livre’ e ‘plena’ manifestação do pensamento, da criação e da informação. Somente depois é que se passa a cobrar do titular de tais situações jurídicas ativas um eventual desrespeito a direitos constitucionais alheios, ainda que também densificadores da personalidade humana. Determinação constitucional de momentânea paralisia à inviolabilidade de certas categorias de direitos subjetivos fundamentais, porquanto a cabeça do art. 220 da Constituição veda qualquer cerceio ou restrição à concreta manifestação do pensamento (vedado o anonimato), bem assim todo cerceio ou restrição que tenha por objeto a criação, a expressão e a informação, seja qual for a forma, o processo, ou o veículo de comunicação social. Com o que a Lei Fundamental do Brasil veicula o mais democrático e civilizado regime da livre e plena circulação das ideias e opiniões, assim como das notícias e informações, mas sem deixar de prescrever o direito de resposta e todo um regime de responsabilidades civis, penais e administrativas. Direito de resposta e responsabilidades que, mesmo atuando a posteriori, infletem sobre as causas para inibir abusos no desfrute da plenitude de liberdade de imprensa. (...) Incompatibilidade material insuperável entre a Lei 5.250/1967 e a Constituição de 1988. Impossibilidade de conciliação que, sobre ser do tipo material ou de substância (vertical), contamina toda a Lei de Imprensa: a) quanto ao seu entrelace de comandos, a serviço da prestidigitadora lógica de que para cada regra geral afirmativa da liberdade é aberto um leque de exceções que praticamente tudo desfaz; b) quanto ao seu inescondível efeito prático de ir além de um simples projeto de governo para alcançar a realização de um projeto de poder, este a se eternizar no tempo e a sufocar todo pensamento crítico no País." (ADPF 130, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 30-4-2009, Plenário, DJE de 6-11-2009.) No mesmo sentido: Rcl 11.305, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 20-10-2011, Plenário, DJE de 8-11-2011; AI 684.535-AgR-ED, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 20-4-2010, Segunda Turma, DJE de 14-5-2010. Vide: ADI 4.451-MC-REF, rel. min. Ayres Britto, julgamento em 2-9-2010, Plenário, DJE de 24-8-2012
 
 
Dessa forma, o anonimato que a Presidenta cita nada tem a ver com as manifestações, o único dispositivo na Constituição Federal que disserta sobre o direito de participar das manifestações também está inserido no art. 5º:
 
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;
 
E só, em nenhum momento é vedado o uso de máscaras, ou seja, se essa lei que os setores reacionários estão querendo aprovar é indubitavelmente inconstitucional.
Se o direito de reunião está previsto no rol do art. 5,º é porque se trata de um direito fundamental, está esculpido no capítulo dos direitos e deveres individuais e coletivos, deve ser garantido a todas as pessoas, assim, não pode ser suprimido, pois segundo o art. 60, § 4º da CF/88, é cláusula pétrea.
 
Nessa vereda, a ADPF 187 julgada pelo STF, tinha como objeto a discussão da marcha da maconha, em que ficou decidido que a manifestação reivindicando a descriminalização deste entorpecente não feria nenhum pressuposto constitucional, cito mais uma vez as palavras do Ministro Celso de Mello:
 
"Dessa forma, esclareceu-se que seria nociva e perigosa a pretensão estatal de reprimir a liberdade de expressão, fundamento da ordem democrática, haja vista que não poderia dispor de poder algum sobre a palavra, as ideias e os modos de sua manifestação".
 
Pois bem, a Constituição garante o direito de reunião, porém ressalta que deve ser pacífica, e alguns podem se questionar, não é o caso das manifestações que estão ocorrendo no Brasil.
 
Verdade, e porque será que aqui no Brasil as manifestações pacíficas foram se dispersando?
O que querem os black blocs? Porque usam máscaras?
Da onde vem essa estratégia de luta?
Pra quê destruir símbolos do capitalismo?
 
A tática black bloc existe há mais de 30 anos, surgiu na Alemanha ocidental ,onde a esquerda promovia ações diretas contra a construção de usinas nucleares, montavam acampamento nesses terrenos, se juntaram também com o pessoal dos "squats" (ocupações abandonadas convertidas em moradias comunitárias), só que pra variar nessa época já existia uma grande repressão policial.
 
Na definição de Bruno Fiuza, historiador:
 
"Por mais redundante e bobo que, possa parecer, nunca é demais lembrar que um 'black bloc' (assim com artigo indefinido e letras minúsculas) é um 'bloco negro', ou seja: um grupo de militantes que optam por se vestir de negro e cobrir o rosto com máscaras da mesma cor para evitar serem identificados e perseguidos pelas forças de repressão".
 
Esse tipo de resistência foi se espalhando pelo mundo, chegou aos EUA no final da década de 80, porém,  foi nos anos 90 que a mídia começou a dar espaço aos atos antiglobalização, as manifestações contra a OMC em Seattle em 1999 foi noticiada pela mídia internacional tendo em vista que os black blocs passaram a realizar ataques seletivos contra símbolos do capitalismo global.
 
No Brasil, através dos Núcleos de Ação Global dos Povos (coletivos libertários que se disseminavam em todo o mundo) , foi realizada o primeiro dia de Ação Global, no dia 26 de setembro de 2000, em São Paulo, os protestos ocorriam simultaneamente em vários lugares, com o objetivo de criticar a reunião do FMI em Praga. O prédio do banco Bovespa foi atacado, gerando o confronto entre os ativistas e os policiais, a maior parte desses manifestantes eram ligados ao movimento anarcopunk.
 
Já a segunda manifestação brazuca ocorreu em abril de 2001, devido a reunião da Cúpula das Américas, realizada em Quebec, Canadá, onde era viabializada a criação da Alca, na avenida paulista uma loja do MCDonald´s foi apedrejada.
 
 Um fato importantíssimo (considerado o grande divisor de águas da luta dos black blocs) fincando na história, foi o que aconteceu na Itália, no ano de 2001, conhecido como a batalha de Gênova.
O dia da ação global de 20 de julho de 2001 , foi articulado contra a reunião do G-8, 300 mil pessoas de um lado e um forte aparato repressivo do outro, assim foi alvejado o primeiro manifestante dos atos antiglobalização, Carlo Giuliani, assassinado com um tiro na cabeça.
Outro episódio marcante foi o ataque ao complexo das escolas A. Diaz, no local funcionava a coordenação do Genoa Social Forum, uma sala de imprensa e um dormitório improvisado. A polícia chegou batendo em todos que estavam ali, resultado: 61 pessoas ficaram feridas, 3 em estado grave, um jornalista em coma,  93 pessoas foram detidas, sofrendo represálias na prisão.
O filme Diaz - Don't Clean Up This Blood (em português, Diaz - Não limpe esse sangue), de Daniele Vicari, retrata toda a violência sofrida no dia dos fatos.

As jornadas de junho de 2013 no Brasil também não fogem à regra de dias vividos como os que ocorreram em Gênova. Jornalistas e manifestantes foram alvos de balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio, muita gente foi presa, e conforme reportagem da BBC nenhum policial foi punido.

As máscaras surgem nesse cenário de horror, não é que os manifestantes não tem coragem de mostrar seus rostos, a verdade é que eles não podem, o Estado truculento com a sua polícia repressora  faz com que esses manifestantes se escondam por trás de suas camisetas amarradas na cara, é um jeito de se proteger, uma maneira eficaz de não ser reconhecido.

Se a própria polícia muitas vezes atua sem tarja de identificação, porque os manifestantes também não podem se ultilizar de tal medida de segurança?

Ademais, se um policial aborda um manifestante "mascarado" e pede seu RG, este não será mais "anônimo", logicamente que a polícia não poderá prendê-lo alegando prisão para averiguação, já que este tipo de prisão não existe mais em nosso ordenamento jurídico.

Observa-se assim que essa lei for sancionada, a nossa democracia que caminha a passos lentos, sofrerá um retrocesso arrebatador, Dona Dilma além de rasgar a Constituição, estará jogando no lixo toda a sua história de luta.

Tudo isso por causa de uma Copa do mundo que perdurará apenas por um mês....


Fontes:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/02/1415061-projeto-da-camara-preve-pena-de-ate-tres-anos-de-prisao-para-block-blocks.shtml

 http://noticias.terra.com.br/brasil/policia/nenhum-pm-foi-punido-desde-junho-por-incidentes-em-protestos-em-sp,2108f3a05ab44410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

 http://rebaixada.org/policial-identifique-se-campanha-pela-identificao-de-poli/

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=182124

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesta%C3%A7%C3%B5es_contra_a_reuni%C3%A3o_do_G8_em_G%C3%AAnova

http://www.viomundo.com.br/politica/black-blocs-a-origem-da-tatica-que-causa-polemica-na-esquerda.html

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/02/19/dilma-defende-lei-rigorosa-contra-vandalismo-nas-ruas.htm
 
 
 
 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Apyka´i e os entraves na luta de Dona Damiana












Como começar a falar de Apyka´i se até um mês atrás não sabia da existência daquela gente?
Na verdade, não era novidade para mim que vários indígenas viviam na beira da estrada aguardando a boa vontade do Poder Público em demarcar suas terras, mas não fazia ideia da miserabilidade que essas pessoas estavam inseridas.
Faço parte do Coletivo Terra Vermelha, uma entidade que não tem registro, não é uma Ong legalmente constituída,  surgiu para ajudar os povos indígenas de Mato Grosso do Sul. Somos professores, artistas do teatro, advogados, biólogos, jornalistas e estudantes, tentando disseminar a questão indígena aos quatro cantos do mundo. Somos pouco, mas somos fortes, como os nossos irmãos.
Recebemos um chamado de que a comunidade de Apyka´i estava prestes a ser expulsa do seu tekoha, o mandado de reintegração de posse já havia sido expedido, em 30 dias a Polícia Federal vai até lá tirar os indígenas à força se nada for feito, nos avisaram também que a líder era uma mulher, Dona Damiana, que havia muitas crianças naquele lugar, que havia fome, era preciso levar alimentos e roupas. Em novembro do ano passado fizemos uma campanha de arrecadação de alimentos e roupas, o foco era  Yvy Katu, escrevi um texto também sobre isso, só que por falta de logística não conseguimos entregar o que foi arrecadado. Yvy Katu fica a 450 km de Campo Grande, a gente precisava de uma kombi ou uma van pra levar todas as doações, veio o natal, ano-novo, recesso de fim de ano e a coisa ficou parada. Saiu nesse lapso temporal uma decisão favorecendo os indígenas de Yvy Katu, ficamos mais tranquilos, mais uma vitória para a luta continuar, para aumentar nossa esperança de que a justiça tarda mas não falha.
Agora, o problema que persiste em bater nas terras dos indígenas volta com a mesma roupagem, porém, bem mais próximo de nós, já que Apyka´i fica a 7 km de Dourados.
Resolvemos então levar as doações para aquele lugar esquecido. Não tem van, nem kombi? Vamos no meu carro, levar o máximo de doações que a gente puder!
Fomos, eu, Rogério e Gabriel. Eu tinha que trabalhar de manhã, saímos depois do almoço, pra fazer um bate e volta. Em Dourados, o advogado do Cimi nos recebeu, menino novo e valente esse Bruno! Gostei dele, sereno, atencioso, estava com uma jornalista gringa de Barcelona, e duas amigas de Sampa. Seguimos o carro dele, e na beira da estrada, em direção a Ponta Porã vejo uma bandeira do Brasil estendida no meio do mato. Estávamos em Apyka´i. Algumas barracas de lona, vi que tinha plantação de milho, abobrinha, nos acomodamos em um banquinho de madeira. Observei o lugar que eles faziam a comida, uma mesa improvisada no meio do acampamento, restos de frutas numa bacia cheia de moscas, tudo muito precário. Três crianças de mais ou menos 7, 8 anos nos olhava com curiosidade, pensava no meu filho, e na minha vida, de como eu reclamava à toa. Quando vi Dona Damiana fiquei impressionada com a força que ela transmitia, pequenininha e tão porreta, essa é a palavra. Foi contando a história da sua gente que é mais ou menos assim:
Há 14 anos tentavam retomar aquela terra, seus parentes estavam enterrados ali, ficaram muito tempo na beira da estrada, aquela era a terceira tentativa de se firmar no seu tekoha.  Em 2008, na segunda tentativa, eram vigiados por funcionários de uma empresa particular de segurança, a tão temida e conhecida "Gaspem". Quem queria impedir a sobrevivência daquele povo? Os supostos donos da terra, nessa parte da prosa que estou tendo com vocês há que se abrir um parêntese. A fazenda Serrana, de propriedade de Cássio Guilherme Bonilha Tecchio, foi arrendada para plantio de cana-de-açucar para a Usina São Fernando, a fim de que  fosse produzido etanol. Olha só a jogada política que está por trás desse mero fato, vou reproduzir aqui o conteúdo do "Dôssie Usina São Fernando", veiculado numa página da campanha guarani, feita especialmente para tratar a questão dos indígenas de Apyka´i:

 "A Usina São Fernando foi construída com dinheiro público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Banco do Brasil (BB): 530 milhões de reais.
A ideia da Usina São Fernando surgiu entre 2006 e 2007, numa parceria entre Bumlai e uma família do agronegócio que progrediu muito no governo Lula, a Bertin. Donos de um grupo de frigoríficos fortemente apoiado pelo BNDES, os Bertin acabaram quebrando e seus frigoríficos foram comprados pelo concorrente JBS, com mais dinheiro do BNDES.
No ano passado, a São Fernando entrou em recuperação judicial, pendurando dívidas de 1,2 bilhão de reais. Do montante, 530 milhões são devidos ao BNDES e BB.
Estes dois bancos financiaram a construção da usina em Dourados, no Mato Grosso do Sul. A operação com o BNDES foi aprovada em dezembro de 2008, logo depois do início da crise financeira global, numa fase em que os bancos privados se recolheram e pararam de emprestar. Mas o projeto da família Bumlai já estava em andamento, embalado pelo estímulo do governo Lula ao aumento da produção brasileira de etanol.
José Carlos Bumlai conheceu Lula por intermédio do ex-governador do Mato Grosso do Sul, José Orcírio Miranda, o Zeca do PT. Na campanha de 2002, o então candidato Lula gravou peças para o horário político numa das fazendas de Bumlai. Tornaram-se amigos a tal ponto que o pecuarista era recebido mesmo sem marcar hora pelo ex-presidente no Palácio do Planalto. Bumlai virou uma espécie de conselheiro de Lula para o e passou a fazer parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social de Lula.
Em 2011, Bumlmai foi investigado pelo Ministério Público Estadual de São Paulo por suposta participação em esquema de desvio de dinheiro público".
 
Pronto, depois da merda jogada no ventilador (desculpa pelo palavreado mas para os Petistas que estão lendo esse texto não há como negar que é este o efeito das palavras ultilizadas acima), posso continuar.
 
Em 2008 a "Gaspem" não deixava nem a Funai, nem a Funasa entregar as cestas básicas para os guerreiros de Apyka´i, o fazendeiro conseguiu na justiça um mandado de reintegração de posse, e lá se foi Dona Damiana com o seu povo para a beira da estrada novamente.
Só que a BR-463 estava em obras para ser duplicada, tiveram que se deslocar para o outro lado da rodovia, não tinham água potável para beber, buscavam água num córrego poluído para beber e fazer comida. Para piorar a situação, no ano seguinte um grupo armado invadiu o acampamento, atirando em todos e botando fogo nas barracas, um senhor de 62 anos foi ferido, o ataque ocorreu de madrugada, enquanto estavam dormindo.
Dona Damiana e seu filho nos levaram até o cemitério, 6 mortos no total. O último, um menino de 4 anos, neto de Dona Damiana morreu atropelado. Esse número só tende a aumentar, me passava pela cabeça, a única terra que eles podiam utilizar era aquele pedaço, apenas para enterrar os mortos.
Reelembrava que uma tia também havia falecido ali, um avião passou por três vezes jogando veneno, a tia que estava no meio de uma plantação de trigo não resistiu ao veneno, faleceu no mesmo dia.
Morrer atropelado é o mais comum em Apyka´i. Juntar o resto da carne dos parentes, guardar os ossos, contar essas histórias para quem os visita, é uma forma de resistência.
Fiquei com uma dor no coração quando ouvi essa história contada por Dona Damiana.
Me veio um receio de que um daqueles meninos que me encarava podia ser a próxima vítima desse descaso. Me lembrei da minha infância em Dourados, das índias batendo na porta de casa e pedindo: - Tem pão velho?
Tudo fazia sentido....
Entregamos os alimentos, roupas, alguns brinquedos, e fomos embora.
Fui embora com uma missão: não vou deixar Dona Damiana e o seu povo serem expulsos de lá novamente. Vamos articular manifestações, editar o vídeo com o depoimento de Dona Damiana, colocar na rede, fazer barricadas se for preciso.
Vamos nos unir "braço a braço", a Constituição Federal Brasileira garante esse direito a Dona Damiana. Não podemos mais esperar a boa vontade do Poder Executivo, este não está do lado de pessoas como Dona Damiana, o interesse maior é ficar do lado de donos de grandes empresas, são para esse tipo de gente que os políticos se importam, vamos ganhar mais dinheiro, o povo miserável dá-se um jeito, morre.