Em tempos como esse, em que o filósofo Bakunin do século XIX é considerado suspeito no inquérito policial que investiga os manifestantes presos recentemente no Rio de Janeiro, sendo acusados pelo crime de formação de quadrilha.
Tempos que são
expedidos mandados de busca e apreensão, onde policiais apreendem
nas casas dos ativistas objetos do nosso dia a dia, como: mouse,
grampeador, agenda, revista, cd´s , camiseta de caveira, bandana da
banda grunge dos anos 90 Nirvana, lanterna, Jornal A Nova democracia,
caixa de papelão, fita crepe.
Tempos sombrios, que as
principais testemunhas do IP supramencionado são ex-namorados (as)
dos suspeitos, parecendo mesmo que a única quadrilha que faz sentido
nessa história toda é a do poema de Drummond:
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Tempos como esse que o
seu direito de manifestação e liberdade de expressão, inseridos
no Título II da Constituição Federal de 1988 “ Dos Direitos e
Garantias Fundamentais”, considerados cláusulas pétreas, ou seja,
não podem ser suprimidos da Constituição Cidadã, não valem nada,
tempos que acreditamos erroneamente serem democráticos.
A falsa ideia de que votar vai fazer alguma diferença. Tempos como esse que articular reuniões em casa pode dar cadeia, vide o caso da advogada Eloisa Samy Santiago.
Tempos como esse que
advogados ativistas levam porrada da polícia enquanto tentam defender as premissas da Constituição durante os atos públicos, que pessoas como o
pedreiro Amarildo desparecem e são executados pela força repressora
do Estado.
Anos de chumbo e
repressão, Fábio Hideki que o diga, preso há mais de um mês,
levou socos e chutes da PM fascista de São Paulo.
As denúncias feitas ao
Ministério Público e a Corregedoria da Polícia sobre o abuso de
poder dos policiais militares durante as manifestações ocorridas
nas jornadas de junho de 2013 até agora não levaram a nenhuma
punição dos mesmos, se foram punidos, a imprensa não noticiou.
Na reportagem de Tânia
Caliari, “ Polícia: para quê polícia?”, veiculada na revista
Retrato do Brasil, o Coronel Ibis Silva Pereira, subdiretor de Ensino
da Polícia Militar do Rio de Janeiro, conceitua o que vem a ser o Estado e posteriormente a
polícia, naquele sentido clássico de que “é a instituição que
coloca em prática o monopólio legítimo da violência do Estado”:
“O Estado é um órgão que se estrutura a partir da ideia do monopólio da violência. É por isso que ele arranca nosso dinheiro pelos impostos, reboca nosso carro quando paramos no lugar errado, coloca a gente na cadeia, manda a polícia bater na gente quando a gente começa a quebrar o patrimônio dos outros”. “Esse é o Estado”, resume o policial, formado em Direito, com mestrado em História e pós-graduação em Filosofia, que dirigiu por dois anos a Academia de Polícia Militar Dom João VI, de formação de oficiais da PM fluminense.
De acordo com a
pesquisa veiculada em abril de 2014 pelo GEVAC (Grupo de Estudos sobre Violência e
Administração de Conflitos) da UFSCar ( Universidade Federal de São
Carlos):
“ Entre os anos de 2009 e 2011, 939 casos de ações policiais
foram analisados. O resultado aponta que 61% das vítimas de morte
por policiais eram negras. No âmbito infanto-juvenil, os dados são
mais alarmantes: entre 15 e 19 anos, duas a cada três pessoas mortas
pela PM são negras”.
Para a União Popular
Anarquista (UNIPA), a autodefesa é a única alternativa para que
seja rompida essa estrutura do Estado- repressor (Comunicado nº 07 # Abril de 2005):
"A única alternativa para os trabalhadores pobres, os negros e pardos, que são as principais vítimas da violência policial, é a organização para autodefesa. O proletariado precisa defender-se da violência, através da formação de grupos de autodefesa que possam opor uma forte resistência à violência policial nos seus locais de moradia (…) Os grupos de autodefesa contra a violência policial e também às quadrilhas de criminosos, serão compostos por trabalhadores e trabalhadoras, organizados localmente e controlados democraticamente. Estes grupos devem assumir a função de defender a vida dos trabalhadores e os seus direitos civis (liberdade de organização, expressão), que são tolhidos pela violência policial. A punição dos culpados pelos massacres e violências contra o povo, só será realizada pela pressão popular, das famílias das vítimas e de todos os trabalhadores. Mas para que esta organização seja possível, é preciso que os lideres comunitários tenham uma real garantia de vida”.
Por falar em autodefesa, não temos como deixar de
citar os Panteras Negras, símbolo da resistência norte-americana em
defesa dos direitos civis dos negros, formado em 1966, eram
conhecidos pelas suas ações contra a brutalidade policial. Em
outubro desse mesmo ano lançaram a Plataforma e Programa, que no
item 7 anuncia:
7. Queremos um fim imediato à brutalidade pessoal e ao assassinato do povo negro. Acreditamos que podemos encerrar a brutalidade policial em nossa comunidade negra organizando grupos negros de autodefesa, dedicados a defender nossa comunidade da opressão e brutalidade policial. A segunda emenda à constituição dos Estados Unidos dá o direito de portar armas. Portanto, acreditamos que todas as pessoas negras devam se armar para a autodefesa. |
O Estado de exceção é aqui e é
agora, pois apesar da promulgação da Constituição Federal, e de
nos ser garantido esse direito de expressão sem amarras, o Estado
continua se utilizando do poder de polícia para nos punir. O Estado
é ao mesmo tempo paternalista e punitivo. Aprendemos
com a história, com os Panteras Negras, Bobby Seale, um dos
fundadores dos Black Panthers, disse:
|
Fontes:
http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/70082/estudo+sobre+violencia+policial+revela+racismo+institucional+na+pm+de+sp+assista+ao+video.shtml